sexta-feira, novembro 29, 2013

Estão aí os novos bebés da Ponta da Pinta!

Madrugada de 29 de Novembro: a Charm (Drimbea Considerable Charm,) dá à luz a sua segunda ninhada, padreada pelo Canto Moço da Ponta da Pinta. É um importante passo em frente no nosso programa de criação, pela incorporação de linhagens novas e incomuns na nossa criação (a Charm, criação de Nichola Marshall, foi importada do Reino Unido), combinadas com as nossas próprias linhagens, e pela contínua aposta na recuperação de cores raras (cinza e tigrado) na variedade de pêlo comprido. 


São oito lindos cachorrinhos (4 machos, 4 fêmeas), de várias cores, cheios de vitalidade. Ao longo das próximas semanas, iremos publicando várias fotos deles. 
Para já, deliciem-se com as imagens do primeiro dia (mais fotos disponíveis na nossa página no Facebook: https://www.facebook.com/pages/Ponta-da-Pinta/141115988344




sábado, novembro 02, 2013

Um pai, muitas cores?



A expectativa duma nova ninhada da Ponta da Pinta, prevista para a última semana de Novembro e planeada com o objectivo de gerar cachorros de cores incomuns (cinza unicolor, cinza tigrado e fulvo tigrado), fez-me recordar o comentário dum senhor que nos visitou, aquando da primeira ninhada da Charm, em 2009. Considerava ele que a grande diversidade de cores dos cachorros significava que não eram filhos do mesmo pai. Para minimizar as probabilidades desse equívoco voltar a acontecer, passo a explicar, tomando o exemplo da Charm, por que motivo um cão e uma cadela podem ter filhos de cores diferentes das suas e também diferentes entre si. 
A Charm tem uma cor acinzentada, determinada por um alelo (cópia de gene) recessivo de uma série genética, e um padrão tigrado, causado por um alelo dominante doutra série genética. Sendo filha duma cadela da mesma cor e dum cão de cor fulva unicolor, herdou, da mãe, o alelo dominante que determina o padrão tigrado e, do pai, o alelo recessivo do padrão unicolor. Por isso, ela é tigrada mas portadora dum alelo do padrão unicolor. Os seus filhos que dela herdarem o alelo dominante serão tigrados como ela, enquanto que os que receberem o alelo recessivo serão unicolores caso herdem do pai o mesmo alelo. Quanto à cor cinza, é causada por alelos recessivos, pelo que um cão só poderá ter essa cor se os progenitores a tiverem ou forem dela portadores. A Charm, sendo acinzentada, só tem essa cor para passar à sua prole, mas se o cão com que acasalar for fulvo os cachorros poderão ser acinzentados ou fulvos, dependendo do pai ser ou não portador do alelo do cinza.No caso dos primeiros filhotes da Charm, como o pai (o Maio Maduro Maio), fulvo tigrado, é portador do cinza, a paleta de cores da ninhada ilustrou as várias possibilidades previsíveis: fulvos tigrados, cinza tigrados, fulvos unicolores, cinza unicolores. Esta próxima ninhada deverá ter variedade de cores semelhante, uma vez que o pai (irmão do progenitor da primeira ninhada) é também portador do alelo recessivo do cinza.

sexta-feira, novembro 01, 2013

A próxima ninhada


Esperamos para o final de Novembro o nascimento da próxima ninhada da Ponta da Pinta. Será a segunda da nossa preciosa cadela Charm (Drimbea Considerable Charm, criação de Nichola Marshall e importada do Reimo Unido), de cor rara e linhagens incomuns em Portugal, e a primeira dum excelente cão criado por nós, Canto Moço da Ponta da Pinta. Esperamos, nesta ninhada, diversidade genética e de cores (cinza e fulvo, tigrado e unicolor). Contacte-nos para mais informações ou para reservar um cachorro: pontadapinta@gmail.com.

quinta-feira, julho 04, 2013

Novo website da Ponta da Pinta


Já está disponível o novo website da Ponta da Pinta, em português e inglês, com informação sobre os nossos cães, programa de criação, historial, planos de ninhadas: http://pontadapinta.wix.com/pontadapinta. Aguardamos a vossa visita!

segunda-feira, abril 08, 2013

Quer ser um parceiro da Ponta da Pinta?

A Ponta da Pinta quer estabelecer parcerias com vista à ampliação do seu efectivo de reprodutores.
Se pretende adquirir um cachorro Serra da Estrela de excelente nível em condições muito vantajosas, ao mesmo tempo que colabora activamente no nosso programa de melhoramento da raça, contacte-nos.

Tm 96.3061658

Baden Baden da Ponta da Pinta

Novos vídeos dos bebés da Ponta da Pinta

Hobbies dum cachorro protector de rebanhos:

1º pastar
2º braço de ferro (mesmo que não seja com o lobo...)

Depois da papa

Dois dos bebés machos da nossa nova ninhada, com cinco semanas e meia.

domingo, março 31, 2013

Entrevista da Ponta da Pinta ao "Cão da Serra da Estrela Website"

(originalmente publicada em inglês, em Janeiro de 2006, em  
Manuela Paraíso e Rui Garção com Baden Baden da Ponta da Pinta.  
Criadores portugueses do Cão da Serra da Estrela.
Foto de António Arrais.

Como se iniciou na raça Cão da Serra da Estrela?
Desde muito cedo, aprendi com o meu pai (que nasceu junto à Serra da Estrela e cresceu rodeado de exemplares da raça), que estes cães eram os melhores, os mais sábios, os mais confiáveis e admiráveis de todos os cães. Concordei totalmente com ele e acrescentei algo mais: os mais belos, também. No entanto, só em 1997 tive a oportunidade de possuir o meu primeiro Serra da Estrela (um sonho de infância por realizar) e o Rui apoiou-me totalmente. Aliás, depressa se tornaria tão viciado na raça como eu.

Que qualidades a atraíram na raça?
A sua inteligência, afecto, lealdade, bravura, coragem, dignidade, nobreza, a sua doçura para com as crianças... e, sim, a sua sabedoria. Enquanto criança, sentia que ao lado dum Serra da Estrela estaria totalmente segura, pois ele saberia o que fazer em qualquer ocasião. E agora não me sinto realmente diferente, porque eles estão sempre à altura das minhas expectativas (e às vezes excedem-nas...).

Na Ponta da Pinta

Quais foram os seus primeiros cães?
O nosso primeiro Serra da Estrela foi o Csar da Casa das Azenhas, o cão que me provou que tudo o que o meu pai me tinha dito era correcto. Ele era inteligente, aprendia rapidamente, era nobre, corajoso, paciente, dedicado, maravilhoso com as crianças, poderoso e tão belo! Teria dado a sua vida para nos proteger. Era o nosso filho.

Qual a origem do nome "Ponta da Pinta"?
Entre outras coisas, "ponta" "extremidade", e como a nossa quinta se situa nos arredores de Vale da Pinta pensávamos que seria divertido combinar essas duas palavras semelhantes. Um pouco musical, como uma lenga-lenga. Há também humor nele, uma vez que "ponta" e "pinta" têm vários significados diferentes e juntos podem levar a diferentes interpretações e insinuações... e achamos isso divertido!

Qual foi sua primeira criação e como é que correu? Quais foram suas primeiras experiências em exposições de beleza?
Será melhor começar pelas exposições, já que nos iniciámos nelas muito antes de termos decidido começar a criar (na verdade, foi uma ferramenta extremamente útil, porque colocou-nos "dentro" da raça e trouxe-nos muito conhecimento; fez-nos procurar e estudar; sem essa experiência de 4 anos, não teríamos ficado tão bem preparados para nos tornarmos criadores). Começámos a levar o Csar a exposições e ele depressa começou a ganhar, tendo-se tornado Campeão de Portugal aos 2 anos de idade (e obtendo mais 3 títulos da FCI pouco depois). Não foi difícil, ele comportava-se maravilhosamente e era um cão muito fácil de apresentar em ringue. Na altura não conhecíamos técnicas de "handling" e com o tempo começámos a perceber que uma boa apresentação, que valorizasse o melhor de cada cão, faria uma enorme diferença.
Quanto à nossa primeira criação, fizemos acasalar a nossa quase veterana Deca e o nosso "neto" Nero da Casa Redonda (filho do Csar) e em Agosto de 2002 esse acasalamento produziu uma ninhada de 3 machos e 3 fêmeas. Tudo correu maravilhosamente e a Deca teve os seus bebés no dia exacto em que pensámos, num quarto dentro de casa (todas as nossas ninhadas nascem dentro da casa, com nossa ajuda e constante supervisão dos primeiros dias). Essa ninhada deu-nos um jovem muito promissor, a quem decidimos chamar Baden Baden e que, 6 meses depois, se lançaria numa espectacular carreira de exposições, que incluiu 3 x BIS.

 O jovem Baden Baden da Ponta da Pinta
Best Puppy in Show da Exposição Internacional de Santarém 2003.
 Foto de António Arrais.

Fale-nos do seu programa de criação e dos melhores resultados que atingiu durante a sua carreira como criadora?
O nosso programa de reprodução assenta no respeito pelo Serra da Estrela e a sua herança como cão de trabalho, e na preservação de todas as características que permitiram à raça sobreviver ao longo dos séculos, bem como do seu tipo. O Serra não foi feito pelo homem, há muito tempo, para ser um cão de exposições de beleza, foi feito para trabalhar. As antigas práticas de criação mandavam que se usasse os cães mais aptos, mais saudáveis, com o carácter melhor e mais valente, um corpo poderoso e ágil que lhes permitisse desempenhar a sua tarefa na perfeição. Os pastores não podiam fazer testes de saúde mas, apesar disso, ao criar os seus cães num ambiente natural, conseguiam produzir reprodutores saudáveis e robustos (os cães inaptos, doentes, seriam simplesmente abatidos ou afastados na reprodução). Esses resultados servem-nos de exemplo, mas agora que vivemos no século XXI e dispomos de ferramentas úteis como testes de rastreio de doenças e conhecimentos sobre genética, não há razão ou desculpa para não os usar, e construímos o nosso projecto de criação combinando esses dois elementos: a sábia e experiente tradição de criação de cães de trabalho e os novos meios tecnológicos e científicos disponíveis. Com isto, aspiramos não apenas a criar Cães da Serra da Estrela típicos, saudáveis e capazes de fazer o seu trabalho, mas também continuar a adquirir mais conhecimento sobre a genética da raça como meio de controlo de defeitos hereditários.
No que diz respeito aos melhores resultados, devemos considerar vários níveis: 1º: exposições de morfologia: embora elas não sejam, de modo nenhum, um dos nossos principais objectivos, devo mencionar que, em 3 anos como criadores, 11 cães criados por nós alcançaram 24 títulos de beleza; só o Baden Baden ganhou 7 (Campeão Mundial 2004, Campeão Internacional, de Portugal, Espanha e Brasil, Jovem Esperança 2003, Jovem Promessa 2003) mas vários outros exemplares da Ponta da Pinta tiveram excelentes resultados; entre eles, Comanche (CH. Lux., Bel., Int.), Choupo (UKC ch. - EUA* - ver nota no final da entrevista), Álamo e Inca (Campeões da Venezuela e Campeões Libertadores** - ver nota no final da entrevista), Ramsés (Jovem Campeão Europeu 2004, Ch. Gibraltar, Espanha, Jovem Promessa 2004), Cheyenne (Jovem Campeã Mundial 2004, Jovem Campeã do Brasil), Tutankhamon (Jovem Campeão Mundial 2004). Outro momento alto para nós ocorreu em Outubro de 2005, quando Kling Klang da Ponta da Pinta, de 13 meses, foi a melhor fêmea da variedade de pêlo comprido, conquistando 2 CACs na exposição monográfica do clube de raça holandês. Vários cães da Ponta da Pinta foram também Best in Show e Melhor do Grupo (classe de cachorros). em exposições multi-raças. 2º: um feito que nos deixa muito orgulhosos é que um cão de nossa criação, Pastorale Ponta da Pinta, tenha sido oficialmente certificada como cão de terapia, visitando crianças e idosos em hospitais. Factos e números à parte, consideramos um excelente resultado global que as pessoas que compraram os nossos cachorros estejam felizes e orgulhosos deles.


Na foto de cima, JE03 JP03 WW04 Ch. Pt. Br. Es. Int Baden Baden da Ponta da Pinta
Na de baixo, WJW04 JCh. Br. Cheyenne da Ponta da Pinta
Fotos de Edmilson Reis, tiradas na Exposição Canina Mundial 2004, no Rio de Janeiro.

O Cão da Serra da Estrela é uma das raças mais populares em Portugal. Como foi que isso a ajudou? Acha que é positivo?
Não ajuda muito. Leva sobretudo a que demasiadas pessoas, que não são criadores, decidam produzir ninhadas sem ter qualquer conhecimento necessário para o trabalho; normalmente vendem os cachorros por um preço bastante baixo, o que diminui o valor da raça. Muitas pessoas preferem comprar esses cachorros, muitos deles de muito má qualidade, em vez de comprar a um criador respeitável e conhecedor. Por outro lado, o facto de existirem muitos exemplares em todo o país, alguns dos quais de boa qualidade apesar de não terem sido criados por um criador conhecido, pode ajudar a ampliar o património genético da raça, no caso de eles provirem de linhagens desconhecidas – e que poderá ser uma mais-valia muito útil.

 Ch. Ven. e Latino-americano Álamo da Ponta da Pinta

Qual era o panorama da raça em Portugal quando você começou e qual é agora?
Há 8 anos, nas exposições de morfologia, havia menos homogeneidade entre os exemplares de pêlo comprido, mas era mais comum ver bons Serras da Estrela de linhagens incomuns do que é hoje. Por outro lado, via-se poucos exemplares de pêlo curto nas exposições e muitos deles eram pouco típicos – o que hoje não acontece.
Naquela época, ninguém admitia que a raça tinha alguns problemas de saúde (como qualquer raça), ninguém radiografava as ancas dos cães – e a absoluta inexistência de controlo de problemas genéticos, juntamente com o aumento da prática de in-breeding (centrada quase exclusivamente no tipo) teve efeitos na incidência de fragilidades na raça (principalmente displasia da anca mas surgiram também outros problemas). Hoje em dia, a maioria dos criadores radiografa as ancas dos seus exemplares reprodutores e alguns também os cotovelos, mas muitos recusam aceitar o facto de que existem outras doenças, embora menos comuns, que devido à falta de controlo estão a disseminar-se e poderão tornar-se difíceis de controlar. As mais graves são a cardiomiopatia dilatada e a torsão de estômago. Uma condição não-letal mas muito perturbadora como o entrópio não é rara e surgiram também alguns casos de epilepsia – embora não se saiba se são hereditários ou secundários. Tanto os criadores como os clubes de raça terão de compreender que por trás de uma pequena percentagem de, digamos, 1% de cães afectados por uma doença poligénica/recessiva há um número muito maior de cães que, sem que se saiba, são portadores (possivelmente 10% ou até mais) e que, se acasalarem entre si, irão gerar alguma prole afectada. Este problema deverá motivar preocupação e reflexão sérias, se quisermos que a nossa raça se mantenha saudável na generalidade. É vital que os criadores comecem a incluir um controlo desses problemas como parte de seu programa de criação. Afinal, quantos cães mais terão de morrer ou viver em agonia até que os criadores decidam que algo terá de ser feito para o evitar?
Há um outro problema que o Serra da Estrela enfrenta, hoje em dia, devido às mesmas estratégias de criação: falta de temperamento. Cada vez mais vemos cães tímidos, medrosos ou simplesmente sem instinto de guarda e de trabalho. O carácter é, como todos sabemos, parcialmente de origem genética e se continuarmos a basear os nossos programas de melhoramento na produção de cães que possam vencer exposições, acabaremos por tornar os Serras da Estrela seres bonitos mas inúteis. É muito gratificante que, hoje em dia, muitos pastores usem Serras da Estrela como guardiões de rebanhos, mas é triste que sejam principalmente exemplares de pêlo curto – porque eles acham que a variedade de pêlo comprido foi arruinada pelos criadores e perdeu as suas capacidades de trabalho, e nalguns casos têm razão. Deverei frisar que a variedade de pêlo curto, embora não seja, de modo nenhum, tão popular como a de pêlo comprido, está viva e recomenda-se, graças aos pastores e a alguns criadores apaixonados que, remando contra a maré, conseguiram restaurar o tipo e aumentar o número de espécimes. O futuro da raça deve-lhes muito.

Consegue imaginar-se a criar outra raça?
Não. Apreciamos várias outras raças, especialmente as portuguesas, mas simplesmente temos de concentrar todos os nossos recursos, tempo e esforços no Serra da Estrela. Se tivéssemos mais tempo e meios, ainda assim dedicá-los-íamos à nossa raça, porque há tanto trabalho para fazer, tanto para estudar e aprender sobre o Serra da Estrela que levaria uma vida inteira. E não conseguimos ver-nos a trabalhar com uma segunda raça apenas para ganhar dinheiro que compensasse criar uma raça não rentável como o Serra. Não seria um trabalho sério de criação e não traríamos nada de bom a essa raça.


Fale-nos sobre os seus melhores cães.
É difícil escolher, porque todos eles têm grandes qualidades e potencial de criação. O nosso ex-libris é, naturalmente, o Baden Baden, não só por ter uma grande carreira em exposições mas também porque atrai a atenção de todos com a sua beleza e majestade, a sua natureza calma, terna e autoconfiante. Também posso mencionar: a avó do Baden, a Bathy, uma cadela saudável, enérgica, corajosa que descende de cães criados pelos Fuzileiros para fins de trabalho – e ela herdou todo esse instinto e capacidades físicas; a Jhava, uma excelente cadela com um único defeito (orelhas placadas), que em apenas 2 ninhadas gerou alguns dos nossos melhores cães; Sequóia e Vertigo, que são globalmente muito correctas e bonitas; Jana de Sabuestrela, que é não apenas linda mas também uma excelente reprodutora; Fidelio, o mais poderoso dos nossos cães, com um carácter maravilhoso num grande corpo; Champagne e Benguela, as mais ágeis de todos (e todos os nossos cães têm excelentes andamentos); Cheyenne, a nossa Jovem Vencedora Mundial; Serena do Paço de Silvalde, uma cadela muito poderosa, enérgica e bonita; e poderia continuar...

 Jhava

Que idade tinham quando reconheceu o seu potencial?
A maioria dos nossos cães, desde muito cedo. O Baden Baden e a Pina Bausch, por exemplo, foram escolhidos no dia que nasceram; a Jhava, quando tinha 1 mês de idade; no entanto, nalguns casos, conservámos duas cadelas da mesma ninhada, de forma a podermos escolher a melhor quando tivessem idade suficiente para se submeterem ao rastreio de displasias da anca e do cotovelo.

Existem pessoas especiais na sua vida a quem esteja grata pela sua ajuda ou inspiração?
Em primeiro lugar, o meu pai, que me abriu as portas, que me ensinou o mais importante sobre a raça e falou sobre estes cães com tal paixão e admiração que me fez apaixonar-me por eles mesmo antes de os ter visto; o Rui, meu companheiro e cúmplice na vida e na canicultura, que partilha o amor pela raça e cuja visão complementa a minha própria; a minha família e a do Rui, que sempre nos apoiaram; Jorge Oliveira e Carmo (da "Casa das Azenhas"), por ter criado e nos ter vendido um cão magnífico e amigo maravilhoso como foi o Csar; Rui Oliveira (da "Casa Redonda"), por ter usado o Csar como padreador (foi o único criador a fazê-lo), partilhando muito do seu conhecimento e ajudando-nos no nosso começo como criadores; as outras pessoas que escolheram o Csar para acasalar com as suas cadelas e as pessoas que amavelmente nos deixaram usar os seus próprios machos como padreadores; António Altavilla (da "Serra de Sintra"), por estar sempre disponível para ajudar e por nos ter cedido algumas das suas cadelas; João Silvino (de "Alpetratínia"), pelo extraordinário trabalho que tem feito em prol da raça, tanto na variedade de pêlo curto como na de pêlo comprido (ele provou que uma só pessoa pode fazer mais que dois clubes de raça juntos); Nanci Pereira (da "Quinta do Pasto"), pelo seu apoio mas sobretudo pelo trabalho admirável e dedicado na promoção do Cão da Serra da Estrela, que deveria servir de exemplo aos clubes de raça; Dr. Mário Ginja e Dr. Luís Lobo, por terem escolhido estudar o Cão da Serra da Estrela nas suas investigações de doutoramentos e pela sua constante ajuda, muito educativa; Prof. Sales Luís, por toda a ajuda, informação e aconselhamento; Dr. Luís Monteiro, que primeiro nos alertou sobre a Cardiomiopatia Dilatada na raça e sobre a importância dos exames de rastreio no controlo da doença; Dra. Carla Cruz, por partilhar tanto do seu conhecimento; Dr. Damas Mora, pelo esclarecimento e por nos fazer perceber quão importante é estudar genética; todas as pessoas que possuem cães da Ponta da Pinta (e muitos tornaram-se bons amigos!), pela sua confiança e encorajamento e, nalguns casos, por os levarem a exposições de morfologia nas quais obtiveram excelentes resultados; todos os nossos amigos Portugal e no estrangeiro, que sempre nos apoiaram (mesmo que demoremos muito tempo para lhes telefonar ou responder às suas cartas e e-mails!); e, por último mas não menos importante, para a nossa amiga Cindy Martishius, que tem feito muito pela raça nos Estados Unidos, enquanto criadora ("Trailsend") e Presidente do Estrela Mountain Dog Association of America.

Quais são os canis, linhagens, cães, do passado e do presente, que admira?
São tantos! Vários criadores, tanto no passado e no presente, produziram muitas Serras da Estrela maravilhosos que por um motivo ou por outro admiramos: Vila Aradas, Rogean, Montes Hermínios, Cântaro Magro, Sabuestrela, Vale do Zebro, Belverde, Cerrado do Rio, Serra de Sintra, para citar apenas alguns; quanto aos cães, há muitos, mas refiro apenas alguns deles: Xangai de Vila Aradas, Sertã de Vale Zebro, Dito, Gingão do Cântaro Magro, Robin de Sabuestrela, Anica do Sertório, Berenice da Quinta do Freixo, Nero da Casa Redonda, Zeus da Lapa dos Esteios, Tejo, Farruscadalp, Cabal d'Alpetratínia, Tarzan da Quinta de S. Fernando, Mitsu da Serra de Sintra, Pinta by Trailsend. E poderia continuar, porque sempre existiram e ainda existem muitos Serras da Estrela excelentes.

 Ch. Zeus da Lapa dos Esteios, propr. João Silvino.
Foto de João Silvino.

Descreva o seu Serra da Estrela ideal.
Corpo, membros e cabeça grandes e poderosos, mas sem aspecto pesado e amastinado, com andamentos leves mas vigorosos, grande capacidade de trabalho, robustez e um temperamento equilibrado.

Pode criar uma imagem do Serra da Estrela perfeito usando cães diferentes?
Há tantos exemplos que poderíamos usar! Escolhendo os nossos próprios cães, imaginamos um Baden Baden melhorado com algumas características da Benguela, da Vertigo ou da Champagne.

Quais considera serem as ferramentas e técnicas de criação mais eficazes? In-breeding/outcross? Quais são as "combinações vencedoras", se é que existem?
O nosso objectivo não é criar de cães "vencedores", mas exemplares correctos e equilibrados em todos os sentidos. O "in-breeding" (consanguinidade apertada) é uma ferramenta perigosa que, na nossa opinião, só deve ser usada  quando conhecemos suficientemente bem a genética dos cães, de modo a evitar surpresas muito desagradáveis, até dramáticas. Se usado apenas ocasionalmente, com cuidado, depois de algumas gerações de "out-crossing", o "in-breeding" poderá reforçar as boas características que queremos fixar, permitindo também a diversidade genética. Em termos gerais, preferimos uma técnica de criação conhecida como "assortative mating" (em que se acasala cães de fenótipo semelhante mas de linhagens diferentes) e outro método que é escolher cães que se complementem mutuamente (especialmente no caso de traços poligénicos - e muitas características como altura, largura, comprimento, comprimento do pêlo, etc., são poligénicas). Uma ferramenta muito valiosa, a mais valiosa de todas, na nossa opinião, é estudar a genética dos cães e tê-la sempre em mente quando se escolhe cada acasalamento. O fenótipo dá-nos apenas alguma informação sobre os genes e o valor reprodutivo do cão. Assim, ao planear um acasalamento, pensamos em tudo: tipo, temperamento, saúde, capacidade atlética, diversidade genética.

Tendo criado algumas ninhadas, acha que as pessoas que compram um Serra da Estrela querem-nos para companhia? Exposições? Trabalho?
A maioria das pessoas quer um Serra da Estrela como um animal de estimação e um cão de protecção, mas alguns entusiasmam-se com a elevada qualidade dos cachorros e acabam por levá-los a exposições de morfologia – às vezes com bastante sucesso. Temos também pedidos de pessoas interessadas em adquirir um cão de protecção de gado (particularmente dos EUA e Canadá), de criadores e de pessoas que querem iniciar um projecto de criação. Ocasionalmente, pedem-nos exemplares que possam executar outras tarefas, tais como "agility", obediência e até mesmo caça. Parece que há cada vez mais pessoas cientes das muitas capacidades do Cão da Serra da Estrela.

 JE03 Plátano da Ponta da Pinta

Se pudesse acasalar qualquer cadela e cão Serra da Estrela do passado e do presente, qual seria a combinação perfeita que você tentaria fazer?
A combinação perfeita não existe mas esperaríamos resultados à altura das nossas expectativas mais elevadas se pudéssemos acasalar, por exemplo, o Xangai da Vila Aradas, um dos muitos cães com grandes qualidades de trabalho que os Fuzileiros tinham, no início da década de 1980, e Berenice da Quinta do Freixo, uma cadela rústica e maravilhosa, que morreu recentemente.

  Ch. Berenice da Quinta do Freixo, propr. João Silvino.
Foto de João Silvino.

Que características considera inadmissíveis na raça? Quais os maiores defeitos?
Não parecer um Serra da Estrela, não se comportar como um Serra da Estrela. Um exemplar muito bonito mas medroso ou com carácter de Labrador, ou um com temperamento típico mas com uma cabeça parecida com a dum Terra Nova ou dum Saluki.

Qual a sua opinião sobre as exposições caninas? Acha que ajudam a criar cães melhores ou o contrário?
As exposições de morfologia podem ser úteis para pessoas que estão a iniciar-se na raça, se tiverem a sorte de encontrar juízes conhecedores, e possibilitam ver muitos cães e aprender. São também úteis para os criadores, que precisam delas para que toda a gente saiba que eles criam cães típicos e vencedores. No entanto, as exposições caninas podem também distorcer aquele que deveria ser o conceito da canicultura, porque demasiados criadores concebem os seus programas de criação com um único objectivo: criar cães que ganhem exposições. E isso é muito perigoso, porque quase sempre implica práticas de consanguinidade apertada que conduzem a um estrangulamento genético na raça. Além disso, no caso de cães de trabalho como o Serra da Estrela, faz a raça evoluir unicamente no sentido dos critérios de beleza, pondo em perigo toda a sua herança genética de cão de trabalho. Alguns criadores dizem que o Serra da Estrela nunca esteve tão bem como hoje, porque muitos exemplares ganham exposições. Na nossa opinião, enquanto houver criadores a pensar dessa maneira, a raça estará ameaçada.

Qual é a sua opinião sobre o carácter do Cão da Serra da Estrela? Qual é para si o temperamento ideal? O que é mais importante – o aspecto ou o carácter?
Como já referi, por muito bom e típico que seja o seu carácter, um Serra da Estrela não é um Serra da Estrela se não o parecer. Não tem de ter a beleza dum campeão mas quando se olha para ele tem de se poder dizer que é, inequivocamente, um Serra da Estrela, mesmo que seja um pouco grande ou pequeno demais, ou um pouco estreito ou largo, comprido ou curto, mesmo que a máscara não seja tão escura como deveria, ou que os dentes não sejam perfeitos ou os olhos não tão ovais como deveriam, ou que a pelagem tenha um pouco de branco a mais. Pode ter vários pequenos defeitos, desde que não possa ser confundido com nenhuma outra raça. Todavia, o seu carácter deverá também ser o desejável na raça: corajoso, ousado, temerário, leal, afectuoso, trabalhador, de confiança e aprendizagem rápida. Um Serra da Estrela sem instinto de guarda, incapaz de desempenhar a sua função original, não é propriamente um bom representante da raça – embora factores ambientais e a socialização (ou a falta dela) desempenhem um papel importante no desenvolvimento do carácter – permitindo que um cão potencialmente tímido (no que se refere à sua informação genética) adquira uma certa autoconfiança se for adequadamente sociabilizado. Da mesma forma, uma experiência traumatizante nos primeiros meses de vida poderá tornar tímido um cão que em circunstâncias normais seria autoconfiante.

Considera que actualmente existem problemas de carácter na raça?
Infelizmente, sim. Muitos Serras são tímidos ou assustadiços e alguns deles são filhos de cães autoconfiantes que nunca mostraram insegurança (possivelmente devido a uma boa sociabilização). O carácter é vital na raça e, por ser parcialmente genético, deverá ser estudado e incluído como uma prioridade no programa de criação de qualquer criador sério.

O que acha da realização de Testes de Carácter para a raça? Considera-os necessários para a criação do Serra da Estrela?
Achamos que todos os recursos que possam ajudar um criador e um dono de um cão a conhecê-lo melhor são úteis. No caso dos criadores, os testes de carácter, se adequadamente concebidos, poderão fazê-los compreender melhor os seus cães ou até aperceber-se de certos traços comportamentais deles que de outro modo ficariam por explicar – e poderá também ajudar a uma melhor compreensão do valor reprodutivo dos cães no que se refere ao carácter. Por vezes é difícil determinar se a autoconfiança dum cão advém da sua natureza ou duma ampla sociabilização – e se for este o caso, ele terá mais probabilidades de gerar prole tímida. No entanto, esse tipo de testes teria de ser concebido com muito cuidado, especificamente para o Serra da Estrela, por especialistas de comportamento e de treino assistidos em todo o processo por criadores que conheçam bem a raça e deveriam ser usados como uma importante fonte de informação para controlar problemas de carácter (da mesma forma que os rastreios de doenças) e não para excluir da reprodução cães que sejam tímidos mas tenham também excelentes características que devam ser preservadas.

 Fidelio da Ponta da Pinta. 
Foto: Alexandre Vidigal.

Acha que os rastreios de doenças são necessários na criação da raça?
Com certeza! É uma ferramenta fundamental que nos diz se os nossos cães são ou não afectados e, se forem, até que ponto. No caso da cardiomiopatia dilatada, os exames só nos dão informação sobre a condição actual do coração do cão*** (ver nota no final da entrevista), sendo necessários exames periódicos uma vez que a doença poderá surgir em qualquer altura da vida do cão, por vezes quando tem mais de 8 anos. No entanto, os rastreios de doenças não nos dão informação sobre se o animal é ou não portador dos genes responsáveis por elas. Para adquirir esse conhecimento, temos de reunir o máximo de informação possível sobre a condição de saúde dos pais, dos irmãos, avós e quaisquer outros parentes próximos, incluindo a sua prole. Para que um criador conheça a carga genética dos seus cães, é crucial reunir toda a informação possível sobre os cachorros que criou, porque ela indicará se os pais deles são portadores de características indesejáveis (e não apenas no que se refere à saúde). Por isso, os exames de rastreio deverão constituir o primeiro passo no programa de controlo de doenças genéticas de qualquer criador, mas deverão ser seguidos de um amplo estudo da genética das linhagens, que é o único meio eficaz para controlar e reduzir a incidência dos problemas genéticos. Isto terá de envolver cooperação e partilha de informação com outros criadores, o que a longo prazo constituirá uma mais-valia muito importante para a raça.

  Jana de Sabuestrela, propr. Ponta da Pinta.

Na sua opinião, qual é a melhor dieta para um Serra da Estrela?
Uma dieta natural, com ingredientes naturais, mas não excessivamente rica em proteína e gordura, porque a tradicional alimentação do Serra da Estrela enquanto cão de rebanho, ao longo dos séculos, era pobre, levando os cães a adaptar a ela o seu organismo e necessidades nutricionais. Na nossa opinião, a melhor opção é uma dieta caseira, com carne, ossos e tripas crus, arroz e vegetais cosidos, óleo de peixe – mas uma ração de alta qualidade para raças grandes , que inclua suplementos como condroitina, glucosamina, taurina e l-carnitina (importante para a saúde dos ossos e articulações e para o tónus muscular cardíaco) é uma opção boa e prática.

Qual considera ser o melhor ambiente para um Serra da Estrela?
Um clima fresco. Deverá estar no exterior, num terreno grande para poder exercitar-se e com um abrigo onde se proteger do calor ou do frio e humidade. Deverá poder entrar em casa porque adora estar com os donos e isso reforçará os laços com eles.

Como vê o futuro da raça?
Com preocupação mas também com muita esperança. Esta raça maravilhosa existe desde há tanto tempo, tendo desenvolvido tantas capacidades e uma tal rusticidade que, apesar das práticas de consanguinidade apertada, ainda é, na generalidade, uma raça saudável e robusta. Uma extraordinária mais-valia para o Serra da Estrela é a actual possibilidade, permitida pelo Clube Português de Canicultura, de se registar ninhadas cujos progenitores são de diferentes variedades. Isto amplia muito as opções dos criadores e também a diversidade genética. Além disso, o facto de cada vez mais pessoas doutros países se interessarem pela raça e iniciarem projectos de criação, e de criadores estrangeiros importarem de Portugal para renovar o seu efectivo de reprodução, abre novas possibilidades ao Cão da Serra da Estrela. Claro que isto significa que tanto os criadores portugueses, que exportam, como os estrangeiros, que importam cães, terão de ter presente que, nos países onde a raça está a começar a ser introduzida ou onde não existem muitos exemplares, deverá haver o cuidado de se constituir um património genético o mais amplo possível, de modo a não gerar estrangulamentos genéticos, que poderiam ser desastrosos. Deverão também pensar que se o efectivo fundador da raça nesses países provier de linhagens diferentes das mais comuns em Portugal, o genoma e a frequência de genes da raça serão diferentes das do país de origem. Isto não tem necessariamente de ser negativo e tanto Portugal como os países estrangeiros onde se cria Serras da Estrela poderão beneficiar dessa situação, sobretudo se puderem exportar ou importar esperma congelado de modo a ampliar o património genético. Há tanto que pode ser feito, e os criadores, clubes de raça e clubes de canicultura deverão ter mente aberta, porque, no mundo moderno, a canicultura (particularmente quando o objectivo é a preservação de características importantes e em perigo) não deve ser estática, conservadora e inflexível: achamos que, se necessário, se deverá usar métodos e técnicas heterodoxos mas éticos que inequivocamente beneficiem raça, nalguns casos a curto prazo. Afinal, para nos ajudar, temos recursos poderosos e eficazes: todo o conhecimento científico e meios técnicos e tecnológicos do século XXI que estão disponíveis abrem novas portas aos criadores para manterem ou obterem diversidade, para controlarem eficazmente problemas genéticos e para continuarem a criar cães que sejam dignos sucessores dos seus ancestrais protectores de rebanhos. Na nossa opinião, isso só acontecerá se, por um lado, o Clube Português de Canicultura ampliar ainda mais a sua política de apoio às raças nacionais e se, por outro, mais criadores se consciencializarem de que criar Cães da Serra da Estrela típicos implica muito mais do que  encarar as exposições de morfologia como objectivo principal. Esperamos que ao Serra da Estrela não aconteça o mesmo que ao Border Collie, que é criado em dois segmentos paralelos que nunca se cruzam – as linhas de beleza e as de trabalho. Detestaríamos vero o Serra transformado num cão que não tem utilidade se não como animal de companhia e como troféu.

 JE03 JP03 WW04 Ch. Pt. Br. Es. Int. Baden Baden da Ponta da Pinta.
Foto de José Vieira Mendes.

Mudaria alguma coisa no universo do Serra da Estrela?
Mudaríamos muita coisa! Todos os criadores deveriam estudar genética, anatomia, morfologia, nutrição, etologia, entre outras disciplinas. Deveriam tornar-se mais técnicos, em vez de empíricos. Deveriam compreender que há apenas uma única razão séria para ser criador, que é melhorar a raça, e a canicultura não deverá ser encarada como um hobby de quem gosta muito dos cães: é preciso estar equipado com visão e com conhecimento técnico, é preciso estudar sempre, porque o actual conhecimento técnico e científico sobre o Cão da Serra da Estrela é muito rudimentar. Deveriam estar dispostos a partilhar informação e experiência com outros criadores, porque uma cooperação em larga escala é a única forma de reduzir eficazmente a incidência de problemas genéticos em qualquer raça. Deveriam pôr de lado rivalidades, compreender que a coscuvilhice e maledicência em nada ajudam a raça e pensar mais no melhoramento da raça do que nos seus próprios egos. Deveriam ser muito selectivos relativamente aos compradores dos seus cachorros, porque um Serra da Estrela nas mãos erradas pode causar grandes estragos à raça. Os clubes de raça deveriam compreender que a razão da sua existência não se deveria resumir à organização duma exposição monográfica anual e de algumas especializadas: deveriam promover e apoiar investigações científicas sobre a raça, organizar encontros de criadores, conferências e palestras por especialistas, criar e gerir uma ampla base de dados aberta, com toda a informação disponível sobre os cães, produzir materiais educativos técnicos e rigorosos sobre a raça e disponibilizarem-nos aos sócios, criadores e quaisquer outros interessados na raça.

É social de algum dos dois clubes de raça portugueses? Se não, por alguma razão especial?
Fomos sócios de ambos até há pouco tempo: resignámos em Dezembro último por desacordarmos com o curso de acção de ambos os clubes, que consideramos acessório e altamente insuficiente, e não há espaço para participarmos e cooperarmos. Além disso, não é preciso ser membro dum clube de raça para desenvolver um trabalho activo em prol dessa raça e é o que temos feito e continuaremos a fazer.

Quais seriam a sua mensagem e conselho aos jovens criadores?
Conheçam a raça: vão à Serra e vejam os cães trabalhar, vão a exposições, visitem o máximo de criadores possível, vejam o máximo de exemplares possível, do máximo de linhagens possível, e fotografem-nos todos. Estudem pedigrees, comparem-nos, tentem perceber quais as características associadas a cada linhagem. Estudem genética, anatomia, nutrição, comportamento. Leiam livros, falem com pessoas que sabem mais do que vocês. Nunca julguem que sabem o suficiente! Compreendam que o tipo de criação que se tem feito do Serra da Estrela, até agora, é na sua maioria empírico, só recentemente surgiu uma abordagem técnica, o que significa que há imenso para aprender sobre a raça e a sua genética – que é a base de tudo! Estejam preparados para dar o vosso melhor à raça e compreendam que, se querem fazer um bom trabalho, não terão lucro com a criação de Serras da Estrela; na verdade, se tiverem sorte e cuidado não perderão muito dinheiro!  Disponham-se a reconhecer os aspectos positivos dos cães das outras pessoas e não apenas os seus defeitos. Disponham-se a cooperar com outros criadores. Sejam sérios, responsáveis e compreendam que o vosso empenho na raça deverá significar que pensarão no interesse dela antes de pensar no vosso próprio interesse particular. Sejam éticos, amem os vosso cães e cada um dos que criaram, proporcionem-lhes uma vida feliz. Não vendam cachorros a qualquer  um! Se estiverem dispostos a fazer tudo isto, sejam muito bem-vindos à raça, o vosso contributo será inestimável!

 JE03 JP03 WW04 Ch. Pt. Br. Es. Int Baden Baden da Ponta da Pinta.
Foto de Alexandre Vidigal.



Notas posteriores à entrevista:

* Choupo da Ponta da Pinta tornar-se-ia posteriormente Grande Campeão UKC-United Kennel Club (EUA)
** Álamo da Ponta da Pinta e Inca da Ponta da Pinta tornaram-se também Campeões Latino-americanos.
*** O extenso estudo sobre a Cardiomiopatia Dilatada no Cão da Serra da Estrela realizado pelo Dr. Luís Lima Lobo para a sua tese de doutoramento no Hospital Veterinário do Porto permitiu identificar os parâmetros normais do coração na raça e, a partir deles, interpretar certos desvios como indicadores dum possível estado sub-clínico da doença, alertando para a possibilidade dela vir a desenvolver-se.

quinta-feira, março 21, 2013

10 anos da notável geração


Faz hoje dez anos que nasceram a terceira e quarta ninhadas da Ponta da Pinta, uma ínclita geração de vencedores: Comanche da Ponta da Pinta (Urys), Campeão da Bélgica, Luxemburgo e Internacional; Navajo da Ponta da Pinta (Yeti), Campeão de Portugal; Cheyenne da Ponta da Pinta, Jovem Campeã Mundial e Jovem Campeã do Brasil; Inca da Ponta da Pinta, Campeã da Venezuela; Álamo da Ponta da Pinta, Campeão da Venezuela; Choupo da Ponta da Pinta, Grande Campeão dos EUA (UKC) e Cão de Terapia certificado; Mogno da Ponta da Pinta, Campeão dos EUA (UKC); Plátano da Ponta da Pinta, Jovem Esperança 2003; Ébano da Ponta da Pinta, várias vezes Best of Breed no Reino Unido e também Melhor Par com Sequóia da Ponta da Pinta, vencedora de vários CACs. E outros cães igualmente excelentes: Apache da Ponta da Pinta, Cherokee da Ponta da Pinta, Tupi da Ponta da Pinta, Faia da Ponta da Pinta. Alguns já não estão entre nós mas recordamo-los hoje, com muita saudade, e a todos os aniversariantes que celebram a sua década de vida. Parabéns aos seus donos neste dia tão especial e um enorme obrigado pela cumplicidade e pela felicidade que souberam dar aos nossos meninos e meninas.